Cerca de dois mil ciganos da etnia Calon que vivem em Eunápolis sentem-se orgulhosos de comemorar, no próximo domingo (24), o Dia Nacional do Cigano. Vivendo principalmente do comércio de gado, carros, imóveis ou da venda de artesanato, anéis de ouro, bijuterias ou o comércio de cavalos, os grupos que tiveram a capacidade de circular por profissões que não eram tão comuns no passado, conseguem sobreviver melhor.
Além da pluralidade socioeconômica, os ciganos apresentam uma enorme diversidade interna em termos de referências étnicas. Aqui no Brasil são mais facilmente encontrados Calon, Rom e Kalderash. Porém, de acordo com os documentos, é provável que os Calons tenham sido os primeiros a ingressar no país no período do Brasil Colônia.
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A religiosidade é marcante nas famílias ciganas. Em quase todos os lares existe um pequeno altar montado. As mulheres ciganas não perderam o hábito de usar vestidos coloridos e chamativos. Para elas não só é motivo de honra como também mostra o valor do seu povo. Os mais jovens, após o acesso à escolas e faculdades, mudaram um pouco a maneira de se vestir.
| Foto: Eduardo Gois |
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| 2 mil ciganos da etnia Calon que vivem em Eunápolis |
O cigano Jorge Silva Brito, de 38 anos, gosta de enriquecer em detalhes os fatos que cercam a vida da sua família que se estabeleceu em Eunápolis em 1994. Ele sente orgulho de ser cigano e dispara: “Nosso referencial é a Igreja Católica, a proteção e a fé e nada tira isso da gente. É o que nos ajuda, é o que dá valor”.
PASTORAL NÔMADE
Dom José Edson de Santana, Bispo Diocesano de Eunápolis e presidente da Pastoral dos Nômades, diz que a Igreja empenhou-se em montar a Cartilha do Povo Cigano, para mostrar alguns pontos na Constituição que dá direito às minorias. “Há ciganos no sul, por exemplo, que montaram o seu próprio negócio, filhos estão na escola e participam do conselho municipal da merenda escolar. Eles se reconheceram e se identificaram como cidadãos, além disso não adianta falar de Deus para eles, sem eles sequer saberem que são gente. Depois disso é que se evangeliza”, explica o Bispo.
NÃO GENERALIZAR
Passados mais de 20 anos em que o senhor Manuel mora em Eunápolis, ele se considera respeitado. “Eu sou amigo de todos aqui da redondeza e queria que nós fossemos mais reconhecidos em nosso país, somos ciganos com muito orgulho e honra, mas antes disso somos brasileiros, mas as autoridades só fingem que reconhecem. Obviamente que todas as classes, todos os povos têm seu lado bom e ruim. O importante é não generalizar. Queremos que não saia mais nos jornais que os ciganos são ladrões, mas que o cigano fulano de tal é ladrão”, indigna-se.
Hoje, a principal luta é serem reconhecidos como cidadãos. Zanata Dantas é membro do Conselho da Pastoral dos Nômades e está se preparando para ir a Roma representar os ciganos do Brasil na comemoração dos 50 anos da Pastoral. “A Pastoral para os ciganos foi uma bênção de Deus, pois desmitificar os ciganos era algo quase impossível, mas o trabalho da pastoral deu a visibilidade de que precisávamos”, relata.
Ele partilha que a partir da pastoral é que se começou a colocar as crianças ciganas para estudar, participar mais da Igreja. “A acolhida da Igreja, principalmente para nós ciganos Calons, tem sido uma glória de Deus. Nós vivíamos fechados, tudo na vida era uma articulação, hoje estamos mais fixos, praticamente não viajamos; o cigano quando viaja é por necessidade, quando a sociedade não dá apoio e expulsa, vamos embora.”
DECRETO
O Dia Nacional do Cigano foi criado em 25 de maio de 2006 por meio de decreto assinado pelo presidente Lula, em reconhecimento à contribuição da etnia cigana na formação da história e da identidade cultural brasileira. Em 8 de abril é comemorado o Dia Internacional dos Ciganos (International Roma Day), que são a minoria étnica na Europa, perfazendo 8 milhões de pessoas.
Comunidades de Eunápolis comemoram Dia do Cigano